
Prêmio Nobel
Não entendo do assunto, mas sou curioso e sempre procuro acompanhar os anúncios. Mês do Prêmio Nobel — a láurea maior.
Outubro, mês das divulgações: são revelados os ganhadores, e todas as vaidades acadêmicas ficam ouriçadas. Há quem espere a vida inteira e nunca veja seu nome entre os escolhidos. Pena. São poucos os contemplados.
Ser um Nobel é o ápice do reconhecimento da genialidade de um mortal. Hoje foi revelado o último dos prêmios — o de Economia — que os “sérios cientistas exatos” insistem em considerar um pseudo-Nobel. Perdem a oportunidade de compreender a complexidade do mundo que os cerca.
O que me chamou a atenção é que, neste ano, os prêmios apontam para um futuro desejável. Ou seja, não se restringem às áreas de atuação em que se enquadram os laureados, nem se limitam a atacar mazelas reais ou sociais, mas indicam novos caminhos a serem percorridos pela humanidade.
O de Medicina, concedido a três cientistas que estudaram o sistema imunológico humano e fizeram descobertas sobre a tolerância imune periférica, aponta para possibilidades de libertar a sociedade de alguns dos males mais temidos da saúde: as doenças autoimunes, o câncer e a AIDS. Caminhos promissores para tratar e debelar essas mazelas.
O de Física, também atribuído a três cientistas, abre perspectivas para a computação quântica e a criptografia avançada, mostrando que os limites antes intransponíveis podem ser constantemente superados.
Velocidades inimagináveis e sistemas com efeitos quânticos nos circuitos permitem ao ser humano desafiar as barreiras do impossível. Acredito que chegará o dia em que provaremos que o infinito será totalmente dominado — e, portanto, finito. Uma nova linguagem matemática nos conduzirá a um mundo sem imprevistos. Talvez, até, um pouco tedioso.
O de Química nos apresenta materiais ultraporosos capazes de capturar, armazenar e separar moléculas em nível atômico — materiais “esponjosos” que conseguem reter grande quantidade de matéria em seu interior.
Imaginem um cenário em que a poluição ambiental possa ser fortemente capturada por um pequeno recipiente, ou um deserto capaz de extrair do ar a água necessária para abastecer populações inteiras. É disso que se trata.
Dois prêmios se voltaram às humanidades.
Um escritor húngaro, que em dias turbulentos e apocalípticos como os nossos aponta a Arte como salvação. Magnífico, extraordinário. Não o li ainda, mas já pedi seus livros — e lerei. Não posso imaginar saída mais confiável e esperançosa para nossos dias.
Outro, com o qual discordo. Deixemos para outra oportunidade a discussão dos motivos.
É o da Paz. Evidentemente, defendo a luta pela democracia em todas as nações. Regimes ditatoriais são sempre indesejáveis. Mas pessoas que, por interesses políticos, admitem o sacrifício de seus povos — populações já muito oprimidas — não merecem meu respeito. Em todo caso, o prêmio aponta para um princípio importante: a busca de uma sociedade mais harmônica e participativa, sem que a opressão de tiranos se perpetue e gere uma classe de superpoderosos. Prefiro entender assim, embora saiba que os fatores que motivaram a premiação têm outra esfera de definição — e que há interesses questionáveis envolvidos.
Saiu hoje o de Economia. Uma boa surpresa.
Três economistas foram premiados. A essência das teorias de raiz schumpeteriana volta a ser lembrada — teorias que veem na inovação a base do desenvolvimento. Entendem que são necessários mecanismos que permitam à sociedade controlar a entrada de novas ideias e produtos em substituição ao velho sistema que ainda funciona. Mas alertam: é importante que se busquem caminhos confiáveis, não predatórios — para o ser humano e para a natureza. A isso chamamos desenvolvimento sustentado ou sustentável, como queiram — em que o progresso técnico seja utilizado como via para uma civilização mais humana e menos desestruturante.
Dediquei minha vida acadêmica a essa área e vejo, nos trabalhos premiados, um reconhecimento de que podemos ter esperança. Podemos imaginar um mundo em que se viva com mais harmonia — pelo menos, em tese.
Como disse, não sou cientista, e muito menos especialista em avanços que realmente apontem para transformações na humanidade. No entanto, o que percebo nesse conjunto de prêmios é a busca por reais melhorias na qualidade de vida. Essas buscas jamais poderão prescindir da Ciência — o único caminho capaz de oferecer embasamento sólido para um novo mundo. E isso é inspirador.
Discordemos de alguns premiados, mas apostemos nessa rota para o futuro que precisamos construir para nossa civilização.
Excelente artigo, Abraham. Meus cumprimentos.
Clemente