Nelson Rodrigues, pernambucano, todo mundo sabe, foi teatrólogo, escritor, cronista. E comentarista de futebol. Morava em Ipanema. Rua Maria Quitéria. Seus textos sobre o mundo da bola foram reunidos numa edição intitulada À Sombra das Chuteiras Imortais (Companhia das Letras, 1993).
Na página 42, ele fala sobre a vitória do Santos sobre o América por 5 a 3, no Maracanã. Pelé, então com 17 anos, fez quatro gols. A certa altura da crônica, Nelson pergunta:
– Por que perdemos, na Suíça, em 54, para a Hungria? Examinem a fotografia dos times entrando em campo. Os húngaros erguem o rosto, olham duro, empinam o peito. Nós baixamos a cabeça e quase babamos de humildade. Esse flagrante antecipa e elucida a derrota.
E Nelson conclui o texto escrevendo: “Com Pelé no time, e outros como ele, ninguém irá para a Suécia com alma de vira-latas.” Fomos campeões mundiais em 58 na Suécia.
Naquela época, o racismo era ainda mais ostensivo do que é hoje. O técnico Feola, não escalou Pelé nos três primeiros jogos. A Copa era na Suécia. E todo mundo era lourinho, lourinho. Então, Nilton Santos e outros companheiros foram ao técnico. E pediram uma chance para Pelé. Pelé foi escalado, jogou, fez seu primeiro gol numa Copa. E nunca mais saiu do time.
Depois que se despediu do futebol, Pelé terminou indo jogar no Cosmos de Nova York. A história de sua ida é curiosa. À época, o secretário de Estado dos norte-americanos era o todo poderoso Henry Kissinger. Fá do futebol e admirador do talento de Pelé. Falou com a Embaixada brasileira em Washington e os acertos deram certo. Durante sua permanência nos Estados Unidos, Pelé foi recebido por três presidentes da República. O último deles, Ronald Reagan.
A vida social de Pelé em Nova York era intensa. As figuras mais conhecidas do esporte, das artes e da política queriam conhecer Pelé, falar com Pelé, receber Pelé. Uma dessas figuras públicas foi o artista plástico, Andy Wharol. No meio da conversa, alguém mencionou uma das frases célebres de Wharol para se referir a Pelé. A frase é: “Todo mundo tem seus quinze minutos de fama”.
Quando o interlocutor terminou a frase, referindo-se a Pelé, Wharol completou:
– Não, no caso de Pelé, ele terá 15 séculos de fama.
Pelé alcançou todos os títulos possíveis como jogador do Santos e da seleção. Lembro que, por volta de 1961, o Santos disputou com o Real Madrid o título de campeão mundial interclubes. O ataque do Real tinha Gento, Di Stefano, Puskas e Del Sol. E o ataque do Santos era composto por Doval, Coutinho, Pelé e Pepe. Na final, o Santos venceu.
Na Copa do Mundo de 2018, vencida pela França, um repórter entrevistava o atacante MBappé. Ao começar a pergunta, o entrevistador disse:
– Vocês venceram a Copa e agora integram uma relação de jogadores como Pelé …
MBappé interrompeu o repórter e disse:
– Um momento, Pelé é único. É o maior.
Os ingleses inventaram o soccer, o esporte da bola nos pés. Pelé inventou a arte, a pintura, no futebol. Obrigado, Pelé.
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