Luiz Otavio Cavalcanti

Aquele foi um tempo de sol. Havia o calor do sonho. E o desafio de juntar plano e realidade. Nas pranchetas da (in)viabilidade política. Aquela época existiu. E deixou uma beleza maior que o calendário.

Era 1960. O vocabulário econômico passava por duas palavras: SUDENE e planejamento. A SUDENE constituía um centro de pensamento. Uma fábrica de projetos. Exalava um clima de transformação. De avanço social e produtivo.

Tal transformação tinha um método: o planejamento. Uma nova ideologia. Usando régua e compasso sobre o semiárido. Catando oportunidades. Colecionando informações. Planejar tornou-se necessário. Abriu horizontes e deu segurança às decisões. Racionalidade. Com emoção política.

Regendo a equipe, um maestro: Celso Furtado. Em torno de quem reuniu-se o mais expressivo grupo de especialistas em desenvolvimento regional no país. Entre eles, Chico Oliveira. Sociólogo. Convicto da urgência das coisas. De mudar.

A grande temática era o desenho econômico a ser implantado no Nordeste. Região era a lente pela qual se instruía o fazer. A dimensão espacial. Tudo descrito no texto do GTDN. Acelerar investimento produtivo, fortalecer infraestrutura e avançar a fronteira agrícola para o Maranhão. Chama François Perroux. Um francês. Um dos grandes especialistas em política territorial. Amenagement du territoire. Ele veio.

Formou-se um grupo plural. Unido por uma convicção: era preciso diminuir a pobreza regional. Combater a desigualdade. Promover a mobilidade social. Na certeza dos números, infiltrava-se a sensibilidade do sociólogo. O dedo, as mãos, a visão de Chico Oliveira. Era como se ele alinhavasse, no bordado social, a costura econômica.

O céu de Chico Oliveira era cheio de estrelas. Ele as guiava. E era guiado por elas. Um diálogo só conhecido e percebido por quem tivesse a capacidade de arrepiar a própria pele. Como ele.

A terra de Chico Oliveira era cheia de cactos. Ele os tocava e fazia do espinho a palma que alimenta os ruminantes. Era um sonhador. Plantado no real. Na real. Por isso, na cozinha de sua formulação, não faltava nada: a economia e a sociedade, a produção e o trabalho. O plano e a justiça. Um sabor doce azedo que trazia a síntese do moderno.

A fronteira da técnica era pequena demais para o tamanho de seu sonho. Os limites do técnico foram ultrapassados pela sensibilidade política do seu ideal. Apanhado no vendaval da ditadura, arrumou a trouxa e migrou para São Paulo. Onde foi aprender. E ensinar aos paulistas com quantos paus se arma uma barraca do pensar.

Compartilhou a esperança de um Partido ético. Foi um dos fundadores do PT. E era tão verdadeiramente ético que, quando o Partido derrapou na lama do mensalão, ele pediu uma revisão de costumes. Uma refundação partidária que assinalasse a correção dos homens. Não foi ouvido. Ouviu seu próprio estatuto moral. E foi embora. Grande como sempre.

Agora, Chico, ele mesmo, virou estrela. Limpa, brilhante. Referente. Por isso, na beira do Capibaribe, que ele tanto atravessou, é possível recolher uma flor. E enviá-la a quem soube cuidar dos jardins.