Luiz Otavio Cavalcanti

A visita do presidente Bolsonaro ao STF, sem agenda marcada, é senha de Terceiro Mundo. Lida em romance de realismo fantástico. Nas sombras do improvável. Do ponto de vista institucional, o encontro foi fora do protocolo. Do ponto de vista pessoal, pode ter sido grosseria.

Na prática, o presidente da República coloca em xeque o Supremo Tribunal Federal. Por intermédio de abrupta ida ao seu presidente. Pressionando a Corte, em visita súbita, a acolher tese do fim do confinamento. Contra a posição da ciência sanitária. As recomendações de epidemiologistas. E as evidências sanitárias em outros países.

O cenário montado pelo presidente da República é afronta moral aos brasileiros. Por três razões: inversão de valores, cooptação plutocrática e constrangimento político.

Primeiro, a ida do presidente Bolsonaro ao STF teria outra finalidade. Deveria ter defendido a vida. E não o lucro. Defendido a ciência. E não a máquina. Defendido políticas públicas. E não interesses localizados.

Houve inversão de valores. Substitui-se o senso do humano, a prevenção da saúde, pelo varejo corporativo.

Em segundo lugar, o presidente da República virou carteiro da plutocracia ? Reuniu em torno de si maiorais da indústria do país. E atravessou o Rubicão da divisória social da população. Elegeu ricos. E secundarizou pobres. No momento em que os necessitados esperam ao relento nas filas jurássicas da Caixa. E vulneráveis caem no abismo da fúria corona.

Houve aliança do poder com a plutocracia. No instante em que desabonados precisam do braço forte do governo. Deu-se o contrário ao ideal aristotélico do Estado.

Em terceiro lugar, o presidente da República armou cena midiática para recado político. Fez teatro para entregar presente de grego no colo do presidente do STF. Afirmando que parte da responsabilidade da crise econômica é dos juízes do Supremo.

O presidente Bolsonaro quis constranger o Supremo. Ladeando o princípio constitucional de equilíbrio entre os Poderes da República. Querendo ratear o custo da crise econômica. Buscando rota de fuga para a parte que lhe cabe no latifúndio da queda do PIB.

No mesmo ato, o presidente Bolsonaro colocou-se contra três entidades: pobres, juízes e sanitaristas. Deu as costas aos necessitados, dando a mão aos plutocratas. Olvidou o respeito a outro Poder e teatralizou a Suprema Corte. Por fim, sequenciou o menosprezo à Ciência.

Já tivemos presidente bossa nova. Temos agora presidente anti moderno, anti futuro. Contra a pesquisa científica, contra a preservação ambiental, desligado da cultura brasileira. Silente à perda de músicos brasileiros.

O Brasil gosta do Brasil ?