Paulo Gustavo

Benito Mussolini.

“[…] a Revolução fascista não derruba por inteiro e de uma vez aquela delicada e complexa máquina que é a administração de um grande Estado; procede por graus, por pedaços […].” Benito Mussolini

A frase “O Brasil tem tudo para ser um grande país” virou um lugar-comum e uma platitude. Está nos bares, nas feiras e nos gabinetes palacianos. Assim, enquanto não vira um sonhado “grande país”, o Brasil vai se dando ao luxo de perder tempo. Geração após geração, o idealismo da frase se confronta e se liquefaz diante da realidade. A constância dessa inércia aponta para algo mais profundo. Afinal, o que nos falta    para agir? Muitos pensadores, a exemplo de Domenico de Masi nos admiram por nossa energia criativa. O que falta? Minha talvez simplista visão de leigo, e de cidadão que tomou horror à citada frase, desemboca em duas questões sem as quais não se avançará jamais para fazer do Brasil um grande país: a desigualdade social e a educação.

Um corte para a presente realidade… No momento, por mais um cristalino equívoco, optamos justamente por nos distanciar daquelas duas questões. Não são prioridades no Governo Bolsonaro. No entanto, todos os idealistas de plantão continuam a sonhar com um “grande país”. Sonham, mas de fato, no inconsciente, muitos só desejam a perpetuação das iniquidades da desigualdade e da deseducação generalizada. Desejam a permanência de um injustíssimo status quo.

Sem ir às raízes dos problemas, contentamo-nos com uma jardinagem que adia uma primavera possível. Falta, e pelo jeito continuará faltando, uma agenda mínima, civilizatória e factível para se tirar o Brasil do atoleiro que todos conhecemos: uma elite ignorante e corruta; uma massa de pobres e miseráveis desvalida, órfã e desamparada; uma crônica inércia política e social. Sem falar dos óbvios espasmos de regressão autoritária como é o caso do atual governo, não por acaso visto pela maioria dos intelectuais e artistas como um parafascismo ou um fascismo à brasileira, à semelhança do outrora chamado “integralismo” (cf. artigo da “Folha de S.Paulo”, 14/06/20: “Por que assistimos a uma volta do fascismo à brasileira”, vários autores).

Até agora, Bolsonaro tem pautado a política de cada dia, de cada semana. Em meu sentir, como dizem os juristas, ele está ganhando a parada da comunicação. É a ele que respondemos e glosamos todos os dias. Ele ganha, não porque tenha razão, mas porque nos vence pelo cansaço. Ele devora, deliciado, nosso medo, nossa indignação. Ele não para e insufla movimento o tempo todo, como na receita fascista original muito bem percebida por Hannah Arendt. Não é o Brasil, como diz o slogan fascistoide, que está acima de tudo, é ele, Bolsonaro, unicamente ele, cujo programa governamental é apenas expandir seu poder, desdenhando, para tanto, todas as atitudes republicanas. Mérito lhe seja dado: manipula bem, sabe dividir e misturar, sabe compartilhar o seu rancor e a sua violência, sabe escolher a fina flor de uma variada ralé…

Evidentemente, não é por aí que o Brasil será um grande país. Agendas que seriam sensatamente prioritárias foram marginalizadas. Pior: são sufocadas porque diminuiu o espaço público de sua discussão, porque o ativismo social e político passa a ser visto com maus olhos e até criminalizado. Para piorar, no bojo de impensáveis aberrações, surgem agora, da parte do governo, ações de apagamento de dados: os referentes aos óbitos da Covid-19 e os alusivos à violência policial. Nada surpreendente para um governo que se compraz em fake news e que abraça o armamentismo, a morte e a repressão.

Sim, o Brasil tem tudo para ser um grande país. Mas os caminhos para se chegar lá estão visivelmente equivocados. Enquanto isso, nos damos ao luxo de perder um tempo precioso, uma valiosa energia criadora. Bolsonaro e seus sequazes, ao contrário, não perdem um minuto: que o diga o triste e lamentável número de brasileiros mortos pela Covid; que o grite, se ainda é possível gritar, o próprio meio ambiente; que o digam os alucinados e fanáticos, que, em vários pontos do País mostram garras truculentas, não só em defesa de um individualismo tosco e reacionário, como também de permanente agressão à Constituição Federal e aos valores e às tradições republicanas.