Apesar de Sun Tzu em seu “Arte da Guerra” não recomendar sua utilização, devido a possibilidade de o exército inimigo romper o centro mais frágil e escapar, o “movimento de pinça” é uma manobra extraordinária usado em inúmeras batalhas através da História e com resultados muito positivos. Foi utilizado pela primeira vez pelo gênio militar, o cartaginês Aníbal Barca, contra os romanos na batalha de Canas.  O “movimento de pinça” é uma manobra militar em que um dos exércitos em batalha ataca pelos flancos, envolvendo o inimigo como os braços de uma pinça, cercando-o. O objetivo é circundar totalmente o adversário, impedindo inclusive o adversário de receber reforços pela retaguarda.  Naquela ocasião, Aníbal Barca com 50.000 homens derrotou o exército romano com 80.000 soldados e sofreu apenas 6.000 baixas. Esse movimento é um exemplo de estudo, de conhecimento do seu local de batalha, de conhecer o comportamento inimigo, de como destruir psicologicamente seu adversário. Assim é no campo de batalha, no xadrez ou nas gestões empresariais ou públicas.

Diversos livros já foram escritos usando a metáfora das estratégias de guerra para determinar decisões nos campos administrativos. Aqui, no entanto, é chamar a atenção para dois problemas que atingem muitas cidades, principalmente de países em desenvolvimento. E as pinças do Recife que trago à tona, que precisam ter pernas fortes para a vitória contra o subdesenvolvimento e à baixa produtividade, deveriam ser a educação e a infraestrutura. Parece que essa discussão fica sempre na academia. Já está mais do que na hora de a política começar a levar esses problemas a sério.

Já é sabido há muito tempo que educação gera renda e não o contrário. Insiste-se em projetos de atração de empresas, de incentivos fiscais (população pagando para atrair empresas e dar dinheiro a empresários) com a eterna justificativa de geração de empregos, e mesmo com o passar dos anos o Recife e sua região metropolitana lutam bravamente para alcançar o primeiro lugar em desemprego no Brasil. Aproxima-se mais uma eleição e o mesmo discurso vem à tona. “Geração de emprego e renda”. Não é atraindo empresas e renunciando a arrecadação que se resolvem os problemas. É aumentando a produtividade, investindo nas pessoas, olhando para uma nova economia e para uma nova sociedade. Aliás, ela já está acontecendo e nossos líderes parecem não enxergar. Continuamos a olhar o fim e não o início.

Não vemos um plano de educação estruturado, apenas programas pontuais em escolas mal preparadas, com professores mal pagos e mal treinados. Fala-se tanto em desigualdade, mas não se combate a origem do problema, a pobreza. E essa se combate com educação de qualidade, com professores mais bem preparados e remunerados e com crianças o mais tempo possível na escola. E em uma escola com estrutura e ensino de qualidade.

A outra ponta da pinça pensamos que deve ser a infraestrutura. Nas cidades, além das vias públicas, passeios, parques, calçadas, ciclovias, todas de vital importância para o bem estar e o bom funcionamento da urbe, em cidades de países em desenvolvimento outras utilities são fundamentais, como sistemas de drenagem, abastecimento d’água, coleta, tratamento e destinação final de esgoto. E tal investimento em infraestrutura deve ser focado na reurbanização de favelas em um programa estruturado de saneamento integrado, considerando além das utilities citadas, um projeto para a solução do déficit habitacional.

Utilizar essa estratégia de um ataque coordenado nesses dois flancos faz com que se atraiam investimentos, gerem empregos, melhore a saúde, reduza o subdesenvolvimento e principalmente, faz com que se conquiste a verdadeira cidadania.