Em 1985, a convite do governo japonês, fui ao Japão. Estudar o sistema fiscal do país. Estive em empresas, órgãos de governo e conversei com professores. E fui a Nara. A cidade, antiga capital do Japão no século 8, é uma joia incrustada no tempo. Templos budistas e palácios imperiais fazem de Nara uma certidão da cultura do povo.

Tínhamos vindo de Tóquio, eu e Takeo Kanawa, oficial do governo que me acompanhava na visita. Tóquio, como se sabe, é visão de futuro. A passagem por Nara, em direção a Kyoto, foi uma lição de cultura. Eu deixara a capital moderna com uma mensagem. E recebera na antiga capital outra mensagem. Ambas profundamente japonesas. Mas incompletas. O Japão só se tornou inteiro para mim quando associei as duas informações. O país somente se assumiu íntegro culturalmente quando eu justapus as duas imagens. O futuro e o passado. O passado e o futuro. No presente.

Aloísio Magalhães, em fala no Conselho Federal de Cultura, assinalou: “Uma cultura é avaliada no tempo. Não só pela densidade de seus elementos, ou qualidade de suas representações, mas por sua continuidade”.

Essa lembrança vem a propósito da pretendida venda, em leilão, do prédio Gustavo Capanema, sede do MEC, no Rio. Um propósito embaçado na falta de visão histórica. Na falta de senso cultural. E de instinto patriótico.

O prédio foi construído entre 1937 e 1945, no governo Vargas. Sendo ministro, Gustavo Capanema. E chefe de gabinete, Carlos Drummond de Andrade.  Trata-se de um dos primeiros exemplares de arquitetura moderna no Brasil. Inspirado no conceito de Le Corbusier. Entre os autores do projeto, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

O prédio foi erguido sobre pilotis, tem fachada em vidro que lhe confere leveza e transparência. Recebeu também azulejos de Cândido Portinari. E jardins de Roberto Burle Max. Seu acervo foi enriquecido com telas de Guignard e Pancetti. E com esculturas de Bruno Giorgi.

Significa que o prédio Capanema se singularizou para além da arquitetura. Cresceu em arte brasileira. E em floral brasileiro. Ou seja, tornou-se uma obra multicultural. Seu horizonte ultrapassou a fronteira da pedra e cal. E foi voar na imaginação criadora de pintores, escultores e paisagistas nacionais.

Por isso, o edifício Capanema deixou de ser uma oficina burocrática. Adensou-se na invenção de artística. Guardando e refletindo, em suas paredes, a expressão da cultura brasileira. Tornou-se memória, arte, estandarte.

Recordo, mais uma vez, Aloísio Magalhães. Que, certa vez, acentuou: “A cultura brasileira não é eliminatória; é somatória”.

Nessa direção, seria o caso de sepultar a venda. E ampliar as perspectivas da educação e da cultura brasileiras. Por que não transformar o prédio Capanema em Museu Brasileiro de Educação ?