Família em Belgrado - 1935

Família em Belgrado – 1935

 

Dia de Praia. Muitos jovens fazendo poses. Procuram ressaltar seus predicados e esconder o que imaginam ser seus pequenos defeitos. Contorcem-se, empinam, fazem malabarismo com seus corpos. Mil fotos, mas, como digitais, facilmente descartáveis.

Sou de outro tempo. Em que fotografia era uma arte, cara e de difícil acesso. A escolha do modelo, o rolo adequado de filme. O cenário, a escolha do que revelar, tudo era bem cuidado. Depois, guardadas em envelopes ou álbuns adequados, colocados em gavetas para serem revistas de tempo em tempo. Ainda tenho em casa duas gavetas cheias delas. Relíquias que mexem com sentimentos.

Tivemos que desmontar a casa de meus pais. Tudo foi encaixotado e levado para outro espaço. Pouco a pouco vão se abrindo as caixas e surpresas aparecendo. Uma das embalagens era de retratos antigos que fazem uma reconstrução no que tínhamos como memória.

Uma velha senhora. Vinda do Marrocos morou em nossa casa algum tempo, antes de ir definitivamente para Israel. Hola seu nome. Lembrávamos de suas histórias, mas não de sua fisionomia. Esta diz muito. Sua ranhetice, suas malcriações, sua pouca paciência estampada. Mas, também, seu enorme coração, suas comidas maravilhosas. A todos confrontava menos a nossa querida avó Paulina, que respeitava em tudo. O recordar de Hola e Paulina nos levou às tortas de queijo, às tradições judaicas, aos mimos que as velhas senhoras sempre fizeram para nós, crianças à época.

Meu pai era homem muito elegante. Seus ternos com tecido inglês, suas gravatas impecáveis. Nenhum de nós a ele puxou, a não ser, de longe, o filho caçula. Seu jeito brusco, sua inteligência incomum, seu tino para os negócios, se refletem nas imagens que hora revivemos.

Minha mãe era especial. Todos nós temos sua lembrança idosa, mas pouco sabíamos de sua juventude. Do jogo de tênis que adorava, dos primeiros empregos, de sua atividade como funcionária pública na Alfândega Espanhola. Uma foto é muito reveladora. Sua beleza estampada e uma frase escrita. Deve ter dado para seu companheiro. Minha mulher insiste que decifre. Amplio e consigo ler. Em uma tradução simples seria “Sorrio porque sou Feliz”. Nada melhor para descrevê-la. Sua alegria sempre cativou, seu jeito de mostrar afeto, uma característica própria. Tinha prazer pela vida e o retransmitia. Vejam se a foto não revela isso:

Quatro irmãos pequenos. Cada um fez seu caminho, cada qual com sua história. Mas, uma foto de época é muito significativa. Recentemente fizemos um jantar e nele pouco recordamos daqueles tempos. Mas, uma coisa ficou patente, sempre que precisamos, uns aos outros recorrem, sempre que podemos nos vangloriamos pelo fantástico que os outros são. Agora, mais idosos, com a perda dos pais queridos, ficamos mais unidos, procuramos estar juntos. Como dizem os escritos da Torá, Ledor Vador, de Geração em Geração, ou, como dizia meu pai, “que vivam irmanados”. Eis a foto:

Meu Departamento da Universidade vai fazer 25 anos. Lembro da origem quando, desacreditados, um Professor de renome nacional, disse que seríamos “uma Administração de Segunda Categoria”. O desmentimos e nos tornamos referência. A Engenharia de Produção da UFPE lidera o ranking das Pós Graduações Brasileiras e tem ajudado a formar profissionais de excelência que se destacam em todas as funções.

Para comemorar vamos tirar uma foto dos Professores. Alguns foram meus alunos, outros até desconheço. Aposentado e dando aula apenas remotamente devido à pandemia, pouco acompanhei da renovação. Mas não vou perder essa oportunidade. Irei e participarei.

Acredito que receberei uma cópia do trabalho do fotógrafo profissional. Colocarei em um belo envelope e guardarei na minha gaveta de fotos. Talvez, algum dia, um dos meus descendentes a descubra e faça ilações de momento tão significativo para este velho professor.