Ontem, após a aula de Aspectos sociais e políticos, tive notícia de minha neta. A Bailarina. Que agora é também poliglota. Fala inglês. E estuda alemão. Danke schön. Hoje, tive notícia de meu neto. O Tecnólogo. Sabe (quase) tudo de computador. Depois das notícias, desliguei o celular e fritei um ovo. E o comi com uma fatia de pão de forma. Com leve camada de creme de goiaba. Para dar cor. E sabor. Ouvindo Diana Krall. The Way you are.

Vamos em frente. Depois de assistir o itinerário menor de Pazuello e de Nunes Marques, resolvi reler o discurso da Servidão Voluntária. De La Boétie (1530-1563).

Ele começa lamentando a obediência a leis iníquas. E acentua: a servidão é uma doença coletiva. Vício incurável dos sistemas autoritários. Aliás, com Wilhelm Reich, no pós fascismo, percebemos quanto de voluntário há na sujeição das massas ao poder absoluto. A alienação parece doce. E a liberdade parece amarga, diz o prefaciador do texto.

Como é possível tantos homens suportarem a tirania? Que tem o poder de subtrair enquanto quiserem e puderem suportar. Que vem a ser isto, afinal, indaga La Boétie? Que triste vício será este? Vivendo vidas sem que possam verdadeiramente chamar de suas?

O que está em jogo, diz o autor, não é a luta entre gregos e persas. Mas entre liberdade e dominação. Não é preciso que o país faça alguma coisa em favor de si próprio. Basta que nada faça contra si próprio. Continua ele: são os próprios povos que se deixam oprimir. Que tudo fazem para serem maltratados. Deixariam de o ser no dia em que deixassem de servir o autocrata.

Para La Boétie, os tiranos tem uma regra: mais arruínam e destroem, quanto mais se lhes der. E mais serviços se lhes prestarem, mais eles se fortalecem. Se nada se lhes der, eles acabarão por ficar nus e reduzidos a nada. Para Boétie, a primeira razão para a servidão é o hábito.

E mais: uma sociedade dividida entre sociedade de liberdade e sociedade de servidão a torna, por completo, em sociedade de servidão. Conclui: boa é a sociedade onde a ausência de divisão assegura o reino da liberdade.

Penso que, na base da democracia, está a educação, o conhecimento. O conhecimento se expande. E regride. E, no avanço das cidades criativas, o conhecimento torna-se transversal. E as pessoas se horizontalizam na cooperação. Que favorece a criatividade.

A vida é admirável demais para ser punida, irresponsavelmente, com tantas mortes. O sentido da vida é claro. É mergulho na pedagogia do fazer. E ascensão à excelência. Mas, em certos trecos da história, perde-se tal sentido no absurdo de pensamento malsão. Que nos invadiu por descuido.

Não nos entreguemos. Resistamos. Com a convicção dos que aprenderam a festejar o amanhã. Mesmo com a dissonância dos que rastejam tapete adventício. De poder cuja lábia é desconstruir.

A beleza da vida me assusta gostosamente. Como escreveu Gabriel Garcia Márquez: pastorear o tempo até que o imenso sol de candeia afunde no mar.