
Zohran
Esta semana, o jornalista Pedro Doria noticiou, em sua coluna no Globo, a ascensão meteórica do deputado estadual Zohran Mamdani. Há alguns meses, ele era um ilustre desconhecido. Receita? Vídeos curtos no TikTok e Instagram.
É fato consumado que as campanhas eleitorais migraram para as redes sociais desde 2016, com a vitória do Brexit e de Donald Trump. Hoje, não há outro método: o analógico está fadado ao fracasso. Só que o jovem Mamdani, de esquerda, filho de imigrantes (se dependesse de Trump, hoje ele nem estaria nos EUA), mudou de tática.
Tanto Trump quanto Jair Bolsonaro usaram e abusaram de longas mensagens no Facebook e no Twitter – hoje, X. Mamdani foi escolhido pelos democratas em detrimento do ex-governador Andrew Cuomo, que renunciou ao cargo em 2021, sob denúncias de assédio sexual. Sua campanha encheu as televisões de propaganda. Perdeu.
TikTok, Instagram, X e Facebook são plataformas bem distintas e, segundo Doria, essa diferença altera a forma como transformamos as democracias digitalmente. Nesse sentido, o jornalista cita uma tese sobre essa transição, de Ezra Klein (New York Times) e Chris Hayes (MSNBC), confirmada pela escolha dos democratas novaiorquinos.
O fato é que textos longos tinham em comum a busca dos algoritmos por atrito, emoções fortes capazes de inflamar os grupos. Hayes trata ambas como “redes iliberais”, que inviabilizam o diálogo. “Não eram, como seguem não sendo, espaços de reflexão. O tamanho do texto não permite, e o algoritmo dificulta o encontro entre pessoas dispostas a conversar”, argumenta.
E Mamdani, 33 anos, é usuário de redes mais ágeis. Quem melhor produz para elas é quem está habituado à sua linguagem. De desconhecido, tornou-se um imenso sucesso em poucas semanas – e acabou escolhido como candidato.
Ainda é cedo, porém, para cravar se essa mudança veio para ficar e se as redes de texto longo entraram em processo de fadiga. Se elas de fato estiverem em baixa, haverá menos políticos destacados pela agressividade, como Trump ou Bolsonaro. O que pode ser um alívio no futuro próximo.
Por outro lado, políticos radicais conseguem disfarçar seu extremismo nas redes de vídeos curtos. Forjam afabilidade — o que já é descrito nos EUA como politainment, ou política enquanto entretenimento.
De alguma forma, isso pode significar uma (bem-vinda) ameaça ao domínio da extrema direita sobre as plataformas digitais. Na torcida para que essa suposta tendência se consolide o quanto antes — mesmo que sem o viés da moderação.
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