Os meios de comunicação social transformaram o espaço público. O que era factual, jornalisticamente impresso, perdeu protagonismo. A era de Walter Lipmann foi encerrada com circuitos midiáticos. Passaram a valer imagens, marcas identitárias.

Nesse rastro, política deixou de ser argumento. Passou a ser estética, experiência sensível. Partilha do emocional. A razão política, leit motiv de Mills e dos Federalistas, Hamilton e Madison, perdeu espaço para as mídias sociais. Abastecidas por microunidades de produtores de notícias, moldadas conforme o gosto do pagante.

A esfera pública, de que falou Habermas, foi sendo desconstruída a golpes imagéticos. Por trás dela, existia uma suposta fortaleza de credulidade e credibilidade: a instância da palavra impressa. Então, a comunicação, autonomizada na internet, entronizou a instância da imagem ao vivo. É o que Eugênio Bucci refere como nova sociabilidade.

A nova sociabilidade perdeu racionalidade. E ganhou cores de emoção, de exaltação. Modelou o discurso populista. Ajustado ao recém introduzido recorte de mídias sociais. Junte-se populismo e internet para se projetar nova forma de fazer política. Dispensado o discurso da razão, recepcione-se o triunfo da imagem. O jet-ski e a motocicleta. Para emoldurar adquiridas emoções em velocidade e ansiada contemporaneidade. Contemporâneo?

Falta o conteúdo. O conteúdo é a violência. Três tipos de violência completam o cenário: primeiro, a violência simbólica da arma de fogo, que representa a capacidade de eliminar, subtrair, tirar da frente. Segundo tipo, a violência política, que instrumentaliza a inconsciência de ativistas sem freio. E expressa o inconformismo autoritário com o equilíbrio dos Poderes republicanos.

O terceiro tipo de violência é o institucional. Que incentiva o descumprimento do protocolo sanitário, o desmatamento na Amazônia, a não inclusão de crianças especiais nas escolas, o racismo da direção da Fundação Palmares, a interferência facciosa em órgãos do Estado, a conivência com políticas clientelistas financiadas pelo orçamento.

Na prática, temos a tentativa de legitimar a violência. Por aí começou o fascismo de Mussolini. Por aí foi semeada a trilha sangrenta do nazismo. Introduzir a violência como política de Estado. Uma cordilheira de atos violentos. Que se distribuem pela gestão. E se disseminam na mente dos cidadãos.

Há, no caso, dois propósitos: inocular o medo à cidadania, fazendo com que não reaja à tirania, temendo mais violência. E legitimar a violência como método de governo, patrocinando a naturalização do uso de meios violentos para instalar regime autoritário.